A presença de artistas negros em espaços de destaque é uma questão urgente e fundamental — e o Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, oferece uma oportunidade de refletir sobre o impacto e a representatividade desses artistas.
Na cena eletrônica, onde as raízes negras são frequentemente silenciadas pela comercialização do gênero, a DJ e produtora brasileira Curol surge como uma figura que não só recupera esse legado, mas o eleva a novas dimensões: “Quando eu subo no palco, não estou sozinha. Carrego comigo cada mulher, cada pessoa negra, cada integrante da comunidade LGBTQIAPN+ que, como eu, luta pelo seu espaço”, diz Curol, com uma franqueza que ecoa a seriedade de sua missão.
Curol rompe barreiras em um cenário que ainda é predominantemente masculino e branco, trazendo uma sonoridade que celebra o Afro House e suas raízes brasileiras. E não é qualquer palco que ela ocupa: de Rock in Rio a Tomorrowland Brasil, passando por Lollapalooza, Universo Paralello, Ibiza, Zamna Tulum e até as Olimpíadas de Paris, a artista está onde muitos sonham chegar, mas poucos conseguem — e ela faz questão de que sua presença ali seja mais do que uma conquista pessoal.
Em dezembro, ela retornará aos holofotes ao lado do coletivo alemão Keinemusik e do DJ &ME, em Fortaleza (CE), em um evento que promete ser mais um marco na sua carreira.
Além de sua presença global, Curol também faz questão de fortalecer a representatividade negra através de sua gravadora, Nature RCD.
“Faço questão de que todas as capas dos lançamentos mostrem rostos negros, e estou sempre atenta a dar oportunidades para artistas pretos”, afirma Curol. Esse compromisso reflete sua dedicação em abrir portas para uma nova geração de talentos.
Mas o impacto de Curol vai além da batida contagiante que domina as pistas: recentemente, um fã, Matheus Maciel Morais, compartilhou que a mencionou em sua redação do Enem, destacando-a como exemplo na valorização da herança africana no Brasil.
Outro depoimento, da fã Juliana Bitencourt, resume o que Curol representa: “Eu jamais poderia entender o que a comunidade preta passou e passa todos os dias, mas conhecer pessoas como você me faz aprender, respeitar e me orgulhar todos os dias dessa comunidade linda e batalhadora.”
Curol e seu reconhecimento profissional
Em 2021, Curol foi premiada como Melhor DJ pelo WME Awards e, desde então, figura na lista The Future of Dance da 1001Tracklists. Suas faixas, que misturam percussões abrasileiradas e grooves marcantes, atingiram o topo das paradas de Afro House e Organic House em plataformas como Beatport e Traxsource. E tudo isso em uma trajetória que parece desafiar as próprias limitações de um mercado que, até recentemente, ainda resistia a artistas como ela.
Curol não pede licença; ela ocupa. Para ela, a música eletrônica é um espaço de luta, de resistência e de representatividade: “A música eletrônica não é só para alguns; ela é para todos”, afirma, com uma convicção que transcende o discurso e se torna uma prática. Em cada set, em cada palco que pisa, Curol transforma a pista em um espaço onde a diversidade, a história e a força da cultura negra se fazem presentes, reafirmando o legado de inclusão e resistência que a música eletrônica carrega em suas origens.
Neste Dia da Consciência Negra, a presença de Curol nos convida a repensar a música eletrônica como um palco de batalhas invisíveis, mas de vitórias concretas. Sua trajetória desafia o público a olhar além do som e a reconhecer o poder de uma artista que não apenas performa, mas que, com cada apresentação, constrói um novo caminho para quem vem depois dela.
A música é para todos, mas o espaço que Curol ocupa é único — e ela o enche de significado, de história e de um futuro onde a representatividade não seja a exceção, mas a regra.