A cantora Mart’nália lançou na última sexta-feira (15) o seu inédito álbum Pagode da Mart’nália, onde a artista revisita 12 clássicos do pagode que fizeram sucesso nos anos 1980. O disco, já disponível nas plataformas digitais, é o primeiro da cantora sob o seu novo contrato com a Sony Music.
Parece incrível, mas a palavra “pagode” já passeia pelo vocabulário da nossa língua portuguesa desde o século XVI. Naqueles primórdios, “pagode” remetia aos encontros e reuniões de músicos, não importando o estilo. Vale lembrar que, àquela altura, o samba ainda não tinha nem nascido – ele só surgiria quatro séculos depois. Mas, tão logo o samba chegou, tomou para si rapidamente esse termo: “pagode” passou a ser especificamente a festa do samba, as rodas que reuniam compositores, cantores e instrumentistas.
No final dos 1970, a partir das modificações que o gênero recebeu debaixo da tamarineira do Cacique de Ramos, “pagode” passou a ser também a variação do samba criada por aquela turma, que incluía Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Fundo de Quintal e tantos outros. “Pagode” era o quê e o onde: ia-se ao pagode ouvir pagode. Mas o tempo seguiu em suas transformações.
Saltadas mais duas décadas, já nos anos 1990, “pagode” passou a ser a linhagem mais pop e romântica do samba, produzida por grupos surgidos sobretudo de São Paulo, mas não apenas.
Mart’nália: o pagode 90 como inspiração para o novo álbum
Nomes que logo explodiram nacionalmente, com grande sucesso comercial, como Só pra Contrariar (do Alexandre Pires), Katinguelê (do Salgadinho), Art Popular (do Leandro Lehart), Soweto (do Belo), Exaltasamba (do Thiaguinho e do Péricles) e Molejo (do saudoso Anderson Leonardo), entre tantos outros. Fizeram história e formaram escola.
Em mais um salto temporal, chegamos em 2024. Unificando todos os sentidos que a palavra “pagode” agregou em 500 anos de existência – mas dando o foco principal à música criada por essa geração 90 do samba –, Mart’nália entrega ao seus fãs, o Pagode da Mart’nália, que conta com participações especiais de Caetano Veloso, Luísa Sonsa e Martinho da Vila. A produção foi dividida entre Marcia Alvarez, Luiz Otávio e Marcus Preto. A direção musical é de Luiz Otávio. A direção artística é de Alvarez e Preto.
“O pagode dos anos 1990 fez um sucesso enorme em todo o Brasil e ajudou muitos músicos a mudarem suas vidas, a se encontrarem pessoal e artisticamente. Foi bem importante ver esse crescimento nas festas, indo para todos os cantos e misturando gente de todas as idades”, lembra Mart’nália. “O que estou fazendo nesse novo trabalho é reverenciar esses grupos e compositores. Pois eles ajudaram a criar uma conexão maior do público com o samba, que ainda era marginalizado naquele período. Fazer essa releitura e juntar a cadência do meu samba a essas canções contribui muito para minha própria liberdade no cantar. Esse repertório marcou muito a memória afetiva das pessoas no passado e agora pode conectar ainda mais as novas gerações ao universo do samba”.
De fato, memória afetiva não falta ao repertório final de Pagode da Mart’nália. A ideia era abranger o maior número possível de grupos, mas o que valeu como nota de corte final foi a relação de Mart’nália com cada canção e a ideia da artista é debruçar especificamente sobre esse repertório surgiu de um sonho.
Marcia Alvarez, empresária de Mart’nália há 25 anos, acordou no meio da noite com a imagem e o som de sua artista cantando os versos de Recado à minha Amada, do Katinguelê: “Lua vai/ Iluminar os pensamentos dela/ Fala pra ela que sem ela eu não vivo/ Viver sem ela é o meu pior castigo”. “Mas ela não conseguia deslanchar com a música. Aí eu dizia: ‘Vamos para Vila Isabel, lá você vai achar o caminho’”, lembra a empresária. “Chamei o Marcus Preto para me ajudar a focar o projeto nos anos 1990 mesmo, pesquisei um repertório que eu sabia que se encaixaria no tipo de discurso que Mart’nália gosta de cantar e fomos indo”.
O álbum contou com uma banda espetacular, tendo Claudio Jorge nos violões, André Siqueira na percussão e Theo Zagrae na bateria. Jamil Joanes, Ivan Machado, Alexandre Katatau e Romulo Gomes se revezam nos baixos; Dadi e Julio Raposo se dividem nas guitarras. O próprio Luiz Otávio faz todos os teclados, com destaque ao número de voz e piano em Essa Tal Liberdade, em participação especial.
Fred Camacho tocou o banjo em Clínica Geral e é de Hudson Santos o violão que seu ouve em Recado à Minha Amada. Os backing vocais são de Ronaldo Barcellos, Luiz Otávio e Mart’nália. As cordas de Domingo foram tocadas por Maressa Carneiro, Thiago Teixeira, Fernando Matta Marcos Graça (violinos), Diego Silva (viola) e (violoncelo), em arranjo de Assière e Luiz Otávio.
Ouça o álbum: