A relação da cantora com sua base de fãs ultrapassa a lógica comum de celebridade e público. Criado espontaneamente em 2009, durante os shows da turnê do álbum The Fame, o apelido “monstrinhos” surgiu como uma extensão estética e emocional da fase vivida por Gaga. Na época, a artista preparava o lançamento de The Fame Monster, projeto que explorava os medos e distorções da fama por meio de uma estética grotesca e teatral — o que combinava perfeitamente com o comportamento intenso e apaixonado da audiência em seus shows.
O gesto de curvar as mãos em forma de garra, introduzido no clipe de Bad Romance, virou símbolo de uma comunidade. Bastava Gaga gritar “Paws up!” para o gesto se repetir em uníssono, criando um laço quase ritualístico entre artista e público.
Essa conexão ficou ainda mais visível quando, em 2010, a cantora eternizou os Little Monsters em seu próprio corpo com uma tatuagem no braço esquerdo. Anos depois, uma nova marca: a famosa garra dos fãs, tatuada nas costas, como tributo à lealdade que define essa relação.
Mais do que um grupo de fãs, os Little Monsters se tornaram uma espécie de identidade. Gaga reforçou isso ao lançar, em 2009, o Manifesto dos Little Monsters, um texto que descreve seus admiradores como reis e rainhas de um reino simbólico, onde ela é apenas a boba da corte devotada a entretê-los e amá-los. O texto ganhou tanta importância que trechos dele passaram a ser usados na abertura da turnê Monster Ball.
Em 2012, Gaga foi além e criou a rede social LittleMonsters.com, para facilitar o encontro de fãs e o compartilhamento de conteúdos artísticos. A comunidade virtual foi seguida por outras experiências, como o “Monster Pit” nos shows da turnê Born This Way Ball, espaço especial reservado para os fãs mais criativos e expressivos, muitas vezes convidados a subir no palco.
Lady Gaga sempre deixou claro que não vê seus seguidores como simples admiradores, mas como uma extensão de si mesma. Ao receber um prêmio dois meses atrás, emocionou-se ao agradecê-los: “Obrigada por sempre me verem com clareza, desde os tempos de The Fame até Mayhem. Porque vocês me enxergaram, eu aprendi a me enxergar.”
Entenda a origem do conflito entre Lady Gaga e Madonna
Muito antes de seus espetáculos monumentais arrastarem multidões em Copacabana, Madonna e Lady Gaga já dividiam semelhanças que iam além dos palcos. Ambas ítalo-americanas, essas duas artistas redefiniram a música pop com suas produções dançantes, visuais ousados, apresentações teatrais e uma habilidade singular de moldar suas carreiras em fases icônicas. E se hoje o clima entre elas é de respeito mútuo, nem sempre foi assim.
Quando Lady Gaga lançou seu álbum de estreia, The Fame, em 2008, deixou claro quem eram suas referências. No encarte do disco, entre os agradecimentos, lá estava o nome de Madonna — ao lado de lendas como David Bowie, Andy Warhol, Prince e Chanel. Era o início de uma relação que, do fascínio, evoluiu para tensão.
O embate público entre as duas ganhou força em 2012, durante a turnê MDNA, de Madonna. Em um dos momentos mais comentados do show, a veterana misturava o refrão de Born This Way, de Gaga, à sua clássica Express Yourself, cuja semelhança melódica era frequentemente apontada por críticos e fãs. Na sequência, a provocação se tornava explícita com She’s Not Me, onde cantava: “Ela não sou eu / Ela não tem meu nome / Ela nunca vai ter o que eu tenho”.
Essa não foi a primeira vez que Madonna se valeu da teatralidade para marcar território. Durante a turnê Sticky & Sweet, entre 2008 e 2009, ela já havia encenado uma performance com dançarinas representando versões passadas de si mesma, num claro recado: não há espaço para imitações no trono do pop.
Coincidentemente ou não, foi também em 2012 que ambas vieram ao Brasil. Gaga, com 26 anos, ainda era vista como uma novata explosiva, enquanto Madonna, aos 54, consolidava sua longevidade artística com décadas de estrada. Mesmo com a tensão no ar, Lady Gaga parecia manter sua postura de reverência. No documentário Gaga: Five Foot Two (2017), ela desabafou: “Eu sempre a admirei. Continuo a admirá-la, independentemente do que ela pense de mim”.
O tempo, no entanto, tratou de dissolver a rivalidade. Em 2019, as duas posaram juntas em uma festa após o Oscar, com Gaga segurando a estatueta conquistada por Shallow e sendo abraçada por Madonna. A imagem rodou o mundo e foi interpretada como um símbolo de reconciliação.
Desde então, os comentários trocados têm sido cada vez mais gentis. Em 2023, Gaga fez questão de deixar um recado carinhoso em um vídeo publicado por Madonna sobre sua turnê comemorativa de 40 anos: “Te amamos, M”.
Até nas gafes, o clima agora é de leveza. Em 2024, durante um show em Toronto, Madonna confundiu o nome da cidade e brincou: “Isso seria tipo vocês me chamarem de Lady Gaga!”. Em seguida, amenizou: “Nada contra a Gaga, mesmo. Eu a amo. É sério! Eu amo qualquer uma que seja mais baixa que eu”.
Duas gerações, estilos distintos e trajetórias marcantes. Lady Gaga e Madonna podem ter protagonizado uma das rivalidades mais midiáticas da música pop, mas hoje, parecem mais próximas do que nunca — unidas pelo respeito, pela ousadia e, claro, pelo legado que continuam escrevendo.
